No mês de setembro o CDHEP iniciou uma experiência inédita com o curso “Educação Popular e Justiça Restaurativa: um diálogo para a efetivação dos Direitos Humanos no Brasil” .
Na reta final do curso @s participantes tiveram contato com o Teatro do Oprimido, prática de Educação Popular idealizada pelo brasileiro Augusto Boal.
A facilitação dos dois encontros – realizados em 11 e 18 de novembro de 2019 – coube ao Coletivo Garoa . Na primeira aula, a “curinga” (nome dado no Teatro do Oprimido à pessoa que facilita os jogos teatrais) Daniela Garcia promoveu uma oficina introdutória ao tema. Durante quase 2h30, as @s educandos participaram de jogos teatrais, sempre permeados pela reflexão sobre as mais diversas formas de opressão. Ao final da aula, inclusive, @s participantes se reuniram em grupos para escreverem uma música que traduzisse a experiência vivenciada naquela noite sobre a temática.
No segundo encontro, o Coletivo Garoa propôs uma aula teórica sobre o Teatro do Oprimido, trazendo seus princípios norteadores: Ética, Estética e Solidariedade. Daniela Garcia também falou sobre a perspectiva do Teatro Social dos Afetos trabalhada por Kelly Cristina Fernandes, integrante do Coletivo Garoa, em sua tese de doutorado em psicologia social. Trata-se de uma metodologia com base no Teatro do Oprimido que considera o afeto um conceito político central e se detém na complexidade e nuances da relação entre oprimido e opressor.
A partir da construção realizada ao longo de todo o curso, em 25 de novembro foi realizado um encontro de síntese que procurou trabalhar convergências e diferenças entre Justiça Restaurativa e Educação Popular.
“O curso ‘Educação Popular e Justiça Restaurativa: um diálogo para a efetivação dos Direitos Humanos no Brasil’ foi uma experiência inédita do CDHEP, propondo-se como um curso-investigação inicial a respeito da aproximação entre Justiça Restaurativa, Educação Popular e Direitos Humanos”, Gustavo de Oliveira, coordenador do projeto.
Gustavo ressalta que o curso buscou fazer apenas considerações iniciais a respeito dessas aproximações com vistas à efetivação dos Direitos Humanos. Dentre elas estão:
Justiça Restaurativa e Educação Popular são caminhos para probematizar a realidade e promover mudanças de cultura: no caso da Educação Popular, sair de uma cultura autoritária, alienadora e bancária para uma que possibilite espaços para a autonomia e para a transformação coletiva; no da Justiça Restaurativa, sair de uma cultura punitivista para uma, de fato, capaz de construir o justo, priorizando sentimentos, necessidades e relações;
A Justiça Restaurativa e a Educação Popular são paradigmas que, baseados no diálogo, se apresentam como possibilidades de ampliação da compreensão crítica da realidade, visando uma ação transformadora sobre esta. Suas construções se dão por meio da racionalidade, mas também do afeto, do corpo, da subjetividade e da conexão, e trabalham o reconhecimento e a aproximação das necessidades cotidianas das pessoas, constituindo-se como um caminho para a efetivação dos direitos humanos.
Justiça Restaurativa e a Educação Popular propiciam espaços de confiança e seguros para as pessoas e a comunidade acessarem suas necessidades e sentimentos de forma consciente, crítica, interativa e propositiva;
Justiça Restaurativa e Educação Popular (em especial, pelo que trabalhamos no Teatro do Oprimido, que permite vivenciarmos algo para visualizar a situação e nos colocarmos dentro dela) como possibilidades de mexer com o corpo e com as emoções para refletir melhor e tentar encontrar formas de mobilização e atuação;
Afeto (como afetar o outro); Justiça Restaurativa como lugar da subjetividade, conexão de humanidades (empatia) e diálogo com as necessidades de cada um;
Justiça Restaurativa e Educação Popular como tempo de possibilidade. Esperança é uma construção ativa, se conectar com as possibilidades. Esperançar.
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